Um Riesling fantástico oriundo da Alsácia, uma região situada a nordeste da França, entre as cidades de Estrasburgo ao norte e Mulhouse ao sul. A oeste, as Montanhas Vosges, separam-na da região da Lorena e a leste, o rio Reno, demarca a sua fronteira com a Alemanha.
Na sua história a Alsácia, tem sofrido inúmeras alternâncias de soberania, ora é Alemã ora é Francesa, mas desde o fim da 2º Guerra Mundial, assumi "definitivamente" a naturalidade francesa.
Julgo que se classificássemos a cultura da Alsácia como um blend, das culturas Alemã e Francesa, resumiríamos de forma sucinta a sua identidade cultural.
Desde logo na sua arquitetura, o traço e cor das suas casas coloridas, estilo enxaimel. Na gastronomia, o chucrute (conserva de repolho fermentado), entre outros pratos típicos alemães coabitam com a boa gastronomia francesa. Na indústria do vinho existe no sistema de denominação de origem e nos seus rótulos um certo pragmatismo alemão, mas se prestarmos alguma atenção podemos observar que, também lá estão, certos requisitos franceses.
Os vinhedos da Alsácia estão dispostos ao longo da encosta leste das montanhas de Vosges, uma estreita faixa de 170 km, que se estende do norte de Estrasburgo ao sul de Mulhouse, plantados a uma altitude média que vai dos 200 a 400 metros, nas encostas voltadas a sudoeste, apesar da baixa temperatura em algumas ocasiões, é lhe garantido uma boa exposição solar e uma boa proteção contra os ventos e chuvas de oeste, fatores que estão na base de um clima seco e ensolarado, propicio ao bom amadurecimento das suas uvas. Por sua vez a diversidade geológica dos seus solos, calcário, granito, argila, etc., permitem-lhe uma boa diversidade de terroir's.
A região da Alsácia compreende unicamente três sub-regiões vitivinícolas:
Alsace (AOC), trata-se de uma classificação que apesar de certos requisitos, como determinação castas autorizadas (Riesling, Muscat, Pinot Gris, Gewurztraminer, Sylvaner, Pinot Blanc e a casta tinta Pinot Noir), é muito abrangente e cobre quase a totalidade dos vinhedos, representado cerca de 73% da produção total da Alsácia;
Alsace Grand Cru (AOC), foi criada em 1983, com a demarcação de 25 vinhedos, integrando, mais tarde, mais 25 e mais 1, perfazendo assim os atuais 51 vinhedos demarcados. Esta classificação só se aplica a vinhos brancos produzidos sobre certas parcelas de vinhedos consideradas de qualidade superior, com condições especiais de insolação e outras regras muito rigorosas, podendo-se apenas utilizar quatro variedades de castas consideradas "nobres", Riesling, Muscat, Pinot Gris et Gewurztraminer. Representando cerca de 4% da produção total da região;
Crémant d`Alsaces (AOC), é uma sub-região onde se produz unicamente espumante pelo método tradicional (como em Champagne), com segunda fermentação em garrafa, apesar da casta principal ser a Pinot Blanc, podem ser utilizadas a Pinot Noir, Riesling, Chardonnay, Pinot Gris e Auxerrois. Esta (AOC) representa cerca de 23% da produção total de toda a região. Podemos encontrar aqui alguns dos espumantes mais prestigiados de França.
( Rosacker Grand Cru - Vila de Hunawihr, incluindo a famosa igreja fortificada, com os seus emblemáticos vinhedos)
Foi daqui de Rosacker Grand Cru que saiu este Riesling (Rosacker Grand Cru) 2022. Um branco oriundo de um vinhedo plantado, na encosta sudeste dos Vosges, a uma altitude entre os 260m e os 330m, em solos calcários, ricos em minerais com boa retenção de água, tudo isto aliado a um microclima bastante temperado, permitindo a maturação lenta das suas uvas, conferindo-lhe aos vinhos, para além da excelente complexidade e acidez, um grande potencial de envelhecimento.
Este é um Riesling com a assinatura do enólogo alsaciano Julien Schaal, que contrariando o que seria natural, arranca em 2005 com o seu primeiro projeto pessoal em África do Sul. Um convite irrecusável de um amigo, produtor de referencia sul africano, que lhe ofereceu emprego e cedeu-lhe alguns vinhedos para que pudesse produzir o seu próprio vinho.
Sem nunca abandonar os seu projetos em África do Sul, em 2013, decide terminar com a parceria que tinha na Alsácia, seu país natal, seguir o seu próprio caminho determinado a focar-se unicamente na produção de vinhos de qualidade superior.
Quis o destino, que também em 2013, em África do Sul, conhecesse aquela que viria a ser sua esposa, enóloga Sophie, quando esta estagiava no projeto vitícola de Paul Cluver. A partir de 2021, também ela, passa a produzir os seus próprios vinhos, sul-africanos, com a denominação Sophie Schaal. Atualmente o casal vive, na pequena vila de Hunawihr, na Alsácia.
Este, Rosacker Alsace Grand Cru, à semelhança de outros dos seus Grands Crus, são elaborados a partir de uvas colhidos à mão, dando primazia à sua fermentação espontânea, deixando que o vinho permaneça um pouco sobre borras finas, uma leve batonnage. O foco está claramente direcionado para vinhos que se pautam por acidez vibrante em detrimento de um outro estilo de Riesling de perfil mais adamado.
No copo, apresenta um tom amarelo palha levemente pálido, límpido e brilhante. Aroma, fresco e elegante, com notas cítricas a lima, tangerina, alguma maçã, um leve toque a flor de laranjeira, algum chá, tudo em envolto numa mineralidade vincada muito interessante e subtilmente terrosa. Na boca, mostra frescura, a tensão de uma boa acidez e o ressoar de delicadas notas cítricas, envolvidas por uma mineralidade adornada por subtis notas a silex e a um levíssimo tom salgado que se estende até ao seu perlongado final.
Muitas são as vezes que nem damos conta que o nosso tempo apesar de largo é curto, muito curto. Que muitas são as vezes que nos perdemos em escolhas que não nos trazem nada de novo, nem nos levam a lugar algum! É assim com quase todos nós. É humano!
Talvez por isso ou por um rasgo de consciência, tento, pelo menos aqui, usar o meu tempo apenas com vinhos que me transmitam, de alguma forma, algo que valha a pena. Como no caso este Riesling alsaciano, um Riesling de grande nível, que por não ter a fama de alguns dos seus renomados pares, por enquanto, ainda está acessível a um preço muitíssimo razoável para a qualidade deste excelente representante da casta Riesling.
Este é um branco que dado o seu perfil, a sua mineralidade e acidez será excelente para harmonizar com, pratos de carnes frias, peixes magros, mariscos, sushi e algumas queijos frescos. Se quiser provar um Riesling a sério aqui está!
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